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Conheça os desafios da Igreja Católica durante a pandemia

Conheça um pouco dos impactos dentro da Igreja Católica durante o isolamento social

Por: Gustavo Dantas

imagem: Meio Norte do Blogs do Efrem Ribeiro

O mundo passou por grande mudança no ano de 2020, o surgimento de um novo vírus na China, criou medo e incertezas na vida de toda população mundial, com os avanços da globalização e a facilidade de deslocamento das pessoas, o coronavírus conseguiu chegar a países de todos os continentes, entre eles o Brasil, oficialmente com o primeiro caso registrado no dia 26 de fevereiro na cidade de São Paulo.

Somente no dia 11 de março a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou situação de pandemia, fazendo um alerta a todos os países, diante das estimativas de pessoas infectadas e mortes, como também os países atingidos. Diante da nova realidade, a população precisou praticar o isolamento social, desenvolver métodos de prevenção e higiene.

Imagem: Catraca Livre

No dia 13 de março o Ministério da Saúde regulamentou os critérios de isolamento e quarentena que seriam aplicados em todo o país, provocando mudanças no dia a dia dos brasileiros, tanto no trabalho, nas escolas, supermercados, shoppings e também nas práticas religiosas. Com isso as instituições, entre elas a Igreja Católica, se adaptar à nova realidade, hoje conhecida como o “novo normal”.

Para o Padre Fernando Amando, pároco da paróquia de Santo Antônio, em Padre Marcos-PI, durante todos os seus quase quatro anos de sacerdócio, esse tempo de pandemia tem sido o mais difícil.

 “A pandemia veio e mudou a vida de todo mundo, todas as classes, sem a exceção de ninguém, teve que se reorganizar e se readaptar com o seu modo de vida, e com a igreja não foi diferente. Tudo que acontece na vida da gente tem as perdas e as ganhos”, explicou o sacerdote.

Arquivo pessoal: Padre Fernando Amando

 “Um das coisas mais difíceis nesse momento foi a necessidade de me adaptar sem o povo, pois passei 10 anos da minha vida no seminário me preparando para ser padre, mas em nenhum momento, durante o meu tempo de estudado, cheguei a hipótese de um dia ter que rezar uma missa olhando para bancos vazios. E isso mexeu de forma forte comigo. Pode ser que outros padres não sentiram tanto isso, mais eu senti! Isso é tão forte, que evito o máximo celebrar na igreja, somente a missa dominical, por ser um missa mais solene, por ser o dia do senhor, mas quando a missa é durante a semana, eu procuro outro lugar como refúgio psicológico para não ver todos aqueles bancos vazios. Quando os vejo e lembro que eles deveriam estar com meu povo que tanto gosto de interagir, e não os vejo ali eu me desmorono psicologicamente”, declarou o clérigo.

O padre explica que uma das orientações é escolher espaços abertos para celebrar e com a participação de poucas pessoas, mantendo o distanciamento seguro. Esta realidade também ocorrer em outras dioceses e congregações, como explica o padre redentorista Jean Lima, atualmente trabalhando na Arquidiocese de Teresina-PI.

Veja um pouco de como foi essa experiência de Pandemia para o Padre Jean Lima

TV R. Sá – Igreja Católica em tempos de pandemia (com Pe. Jean Lima)

Com isso, toda igreja teve que se adaptar a essa nova realidade, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou diretrizes para celebrações presenciais durante todo esse tempo pandemia, estimulando o contato, mesmos de forma distante, com os fiéis.

OS EFEITOS DA PANDEMIA NO COTIDIANO DA IGREJA 

Ainda em conversa com padre Fernando, perguntamos como estão sendo os impactos do distanciamento dentro da sua igreja, ele fala do contato dentro da paróquia, que atualmente é quase inexistente, tendo apenas os pequenos grupos que ajudam nas celebrações e orações. Agindo assim, de acordo com as orientações feitas pela Diocese e órgãos responsáveis.

O padre fala que foi necessário se reinventar, um desses momentos foi a reabertura da igreja em datas específicas e estratégicas, como exemplo, a Quinta-feira Santa, Corpus Christis para a adorações individuais, e nos domingos do dízimo.

“Essas atitudes foram um diferencial da nossa igreja, a gente fazia a entrega dos envelopes em suas casas com ajuda dos missionários do dízimo (pessoas voluntárias) que falavam com os fiéis que não teria como ter missa com todo mundo, mas durante todo o domingo (das 7h às 18h) a igreja estará aberta para visitação, para a devolução do diízimo e fazer sua oração pessoal, e não faltava gente hora nenhum. Claro que com toda a proteção necessária para manter o distanciamento” explicou o sacerdote.

Em relação aos impactos financeiros, o Padre Fernando fala que a paróquia não teve nenhum prejuízo financeiro. “Foi algo que consegui aprender nessa pandemia, que quando a obra é de Deus, é como aquele ditado: Deus dá o frio de acordo com o cobertor. Ele não iria permitir uma pandemia se a gente não tivesse a condições de passar por ela, e isso foi uma supressa boa que tive, que a obra é de Deus e Ele providencia” .

Questionado de como não teve impactos econômicos, o Padre Fernando explica que foi criando novos meios e mantendo a comunicação com os fies. “Eu acredito se a gente tivesse parado tudo, sem as missas e sem o contato presencial, seria difícil. Mas como sempre mantivemos o contato com os fies por redes sociais, com o whatsapp e pelas transmissões ao vivo”.

 O sacerdote ressalta que a Igreja Católica não conta com documentos explicando como celebrar missas online, visto que a instituição não estava preparada para isso. Diante das mudanças impostas pela pandemia, o padre fala sobre um novo jeito de ser igreja e de uma relação mesmo que a distância com fiéis, mantendo o antigo do contato, mas agora de forma virtual.F

Velórios, missas de corpo presente e enterros

Nesse momento de pandemia onde muitas pessoas perderam seus entes queridos, a Igreja sempre é o porto seguro como palavra de confronto. Mas, fez-se necessário tomar uma série de precauções para manter a segurança dos fieis.

Com isso, o Padre Fernando falou da postura e orientações assumidas pela Diocese de Picos: “Em relação aos velórios, a orientação é realizar apena o acompanhamento à distância, com isso, os padres não celebram e não abrem a igreja para nenhum velório, por duas razões: primeiro para não ter seleção (abrir para um e não abrir para outros) e a segundo, é que quando abrimos a igreja para esse tipo de momento funerário (mesmo que a morte não tenha sido por conta do COVID-19) ,pode haver a possibilidade da existir aglomeração, sendo algo quase inevitável” , explica.

Por isso o presbítero destaca que a questão não é a causa da morte, mas sim os efeitos que aquele momento pode ocasionar, pois com ele pode se descumprir a lei e também colocar o padre e os fiéis presentes em risco.

“Tenho consciência que este é um tempo muito difícil, principalmente na minha região, pois tem uma cultura muito forte nessa parte dos funerais, dos mortos, velórios e dos enterros, e eu acredito que para as pessoas que tiveram a experiência de ter algum parente que veio a óbito nesse período, foi muito triste e duro. Mas eu confesso que já rezei por todas as famílias que soube e estou em constante oração por elas, para que Deus conforte o coração de cada uma, já que não se pode fazer de outra forma” declara o clérigo.

UM NOVO JEITO DE SER IGREJA NA INTERNET

Para tentar resolver essa questão do isolamento, muitas comunidades da Igreja Católica começaram a transmitir suas mensagens religiosas aos fiéis por meio de serviços de streaming, redes sociais, aplicativos. Algumas mantiveram os eventos programados, como festejos, que foram realizados de forma virtual.

Com isso, muitos padres tiveram a oportunidade de aprender a usar novas tecnologias, inclusive a usar os meios de comunicação para levar a Palavra de Deus. De acordo com o padre Fernando, uma parte da igreja descobriu graças a pandemia a importância de estar presente e saber usar os meios de comunicação.

“Eu acredito que muitos padres, inclusive eu, não davam muita importância para os meios de comunicação como rádio, internet e redes sociais. Isso é tão verdade que as nossas redes sociais eram usadas, mas de forma muito descuidosa, não existia um cuidado, uma preparação,  um carinho para com aquelas pessoas que acompanhavam por esses meios, aliás a gente tinha um equipamento guardado, sempre foi falado que seria uma ajuda para realizar transmissões com muita qualidade, mas não era usado pois não dava tanto valor como dou hoje, por isso que vejo que [este aprendizado] foi um dos grandes ganhos para igreja, descobrir a força que existe na tecnologia junto da comunicação”, falou o sacerdote.

imagem do instagram: @paroquia.santo.antonio.pm

Para o padre essa mudança na mentalidade da igreja foi um grande ganho, pois através desse trabalho pelas redes sociais, foi capaz de ir mais longe, chegando a pessoas que não eram da paróquia, e que depois de conhecer o trabalho e a dedicação, se tornaram membros virtuais. “Conseguimos a confiança de pessoas de outras cidades e estados que se identificam com o nosso jeito, com a nossa paróquia, com nosso povo e que acompanham nossos momentos fielmente, se fizermos três transmissões por dia, nas três estarão lá, pois temos um público fiel”.

“É impressionante como pessoas, por exemplo, do Acre, que nunca vieram nem conheciam nossa região, puderam conhecer por meio das redes sociais da nossa paróquia, pois quando você acessa conteúdos religiosos, por exemplo no facebook, o aplicativo vai sempre sugerir conteúdos desse tipo para você. E como esse tempo de pandemia as pessoas estão buscando cada vez mais por orações e missas na internet, possivelmente acabaram conhecendo e se identificaram como o nosso jeito, e são felizes por serem reconhecidas como membros da nossa igreja, mesmo nunca tendo estado aqui”, contou o padre Fernando.

Podcast _ evangelização pelas redes sociais

Podcast: A Evangelização Pelas Mídias Sociais Gustavo Dantas

FIÉIS DESCONECTADOS: A REALIDADE DOS FIÉIS QUE NÃO TÊM ACESSO À INTERNET

A igreja como um todo deve entender que ainda existem muitas pessoas sem internet em casa, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC- 2018), divulgada no dia 29/04/20 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede.

Por isso que a igreja precisar ir muito mais longe do que ser apenas presença nas redes sociais, em relação a este cenário, o padre Fernando Amando fala sobre a importância dos meios tradicionais para a evangelização como o rádio. De acordo com o sacerdote, um dos seus braços fortes nesse tempo de pandemia foi a Rádio Boa Esperança AM (Padre Marcos – PI) que tem mais de 32 anos de atuação no município e sempre foi um meio de comunicação com povo das comunidades rurais.

“Acredito que em toda a vida dela[da emissora de rádio] o seu nome foi tão encaixado, tão viável e tão verdadeiro como nesse tempo de pandemia, a Radio Boa Esperança realmente tem sido uma esperança para aqueles que não têm o acesso à internet ou não têm afinidade com esses meios. Por isso, em todos os momento que estava celebrando, a rádio está presente, mesmo sem internet a pessoa tem um telefone, liga para mim e diz que que me ouviu e que está sempre acompanhado. Como rádio faz com que as informações da nossa igreja chegue até eles, conseguimos suprir consideravelmente essa falta do acesso à internet e de meios mais modernos, e a gente percebe os impactos possíveis que isso gera nas pessoas mais simples”, relata o presbítero.

As além das celebrações e orações realizadas na emissora, existe também um programa religioso todos os dias às 12:00, que tem como função levar a palavras de esperança e atualização da caminha da igreja local nesse tempo, além de tentar aproximar a paróquia com as famílias. O Programa Igreja Libertadora tem mais de 30 anos no ar, promovendo momentos voltados para a Palavra de Deus, mensagens e interação com os fiéis. Com isso, esse meio de comunicação se tornou uma forte conexão da igreja com a população, principalmente com os idosos e mais pobres.

“Eu acredito que podia ter explorado mais esse programa, gravado mais mensagens, eu reconheço, por isso que tomei para mim de forma particular a condução do programa aos domingos, pois acredito que é o dia que as famílias estão mais em casa, pois na semana muitos trabalham. E com isso, passei a acompanhar muito o programa, coisa que antigamente não tinha tempo”, declarou o sacerdote.

Veja o programa:

programa Igreja Libertadora 05/07/2020

Publicado por Paróquia De Santo Antônio em Domingo, 5 de julho de 2020

Para vê mais programas acesse o fabebook da Paróquia Santo Antônio: Clique aqui

O NOVO NORMAL DA IGREJA CATÓLICA

Depois de quatro messes de igreja fechada, muitos fiéis estão desejam frequentar os templos religiosos novamente, esta realidade não é diferente para a Igreja Católica, por isso que muitas dioceses do Brasil, juntamente com a CNBB, já estão buscando soluções para a reabertura gradual dos templos, com redução dos fiéis, distanciamento durante as celebrações, além do uso obrigatório de máscaras, entre outras estratégias que evitem uma possível contaminação dentro da igreja.

“Eu vejo com muita esperança, pois sei que existem muitas pessoas necessitadas da eucarística como alimento que fortalece nossa alma, como também os sacramentos da igreja, que são parte importante na vida do cristão, mas confesso que também estou preocupado, pois eu acredito que o pico ainda não passou, ninguém vê números baixando, pelo contrário. No entanto, vale ressaltar que esse processo vai se dar de forma gradual e t regido pelas orientações dos órgão competentes, e que com isso não vai acontecer o que o padre quer ou o que o fiel quer, tudo vai ter que ser seguindo todo o protocolo que já está sendo montado pelo governo do estado do Piauí”, falou o padre.

Reunião do clero sobre a reunião

Imagem: Reunião do Clero Diocese de Picos (DP15.com)

De acordo com o Padre, o momento de reabertura vem mostrar a todos que é necessário ter esperança e seguir todas as orientações corretamente. “Uma coisa é certa, isso já é um sinal de esperança, claro que não podemos enfrentar de qualquer jeito, mas temos que continuar a vida, tendo todos os cuidados e prerrogativas necessárias para prevenir as pessoas, principalmente os mais idosos e os que fazem parte do grupo de risco”.

“Um das coisa boas da pandemia foi provar para nós, que tudo isso que está acontecendo vem para provar a cada um de nós, que aquele ritmo que estávamos vivendo não era o nosso. Eu tenho certeza que nossa vida não vai voltar aquele mesmo ritmo tão cedo. Por mais que vamos conseguir uma vacina, como meio de frear essa doença, a vida não vai voltar a ser como era antes do dia para noite, ela vai ser um processo que vai nos educar bastante a respeito da convivência pessoal, de valorizar o contato em família, os momentos em casa”, falou o sacerdote.

MENSAGEM FINAL: NADA NA IGREJA SUBSTITUI A PRESENÇA DAS PESSOAS

“Não deixem desesperar nosso coração, continuemos firmes na esperança que iremos retomar nossas vidas, claro que não vai ser com um passe de mágica, mas dentro de um processo lento e gradual,que em breve iremos começar voltar ao novo normal. Não percamos a esperança, nós iremos vencer!”                                                                                                         

Padre Fernando Amando Pároco da paróquia de Santo Antônio na cidade de Padre Marcos PI

Reportagem produzida por Gustavo Dantas   Estudante de Jornalismo da Faculdade R. Sá

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