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Memórias da escravidão no interior do Piaui

Marciana Barbosa

A escravidão marcou o início de muitas cidades brasileiras, não muito diferente do que aconteceu em uma comunidade localizada no interior do Piauí, hoje, com o nome Retiro da Conceição. Por volta dos anos de 1800, a comunidade viveu a mais cruel de suas histórias, que foi forçar pessoas negras a trabalharem sob condições desumanas.

Um dos moradores da comunidade diz que falar sobre o registro de escravos é muito difícil, pois ocorreu ha muito tempo. ‘‘As informações que eu sei foi deixada por nossos antepassados. Aqui na comunidade, não tinha habitação e foi o casal Capitão Chico e sua esposa os primeiros a habitar e junto com eles veio os escravos para trabalhar com os mesmos”, diz Ubaldo Moura.

A Fazenda Retiro, assim chamada pelo capitão Chico e sua esposa, tinha um total de 40 escravos entre homes e mulheres. Os negros ali trabalhavam de sol a sol, quase não tinha descanso e, com a desobediência, vinham os mais cruéis castigos.

“Um dos moradores diz que os escravos aqui deixados eram trazidos da África assim como nos outros locais que tiveram registros de escravidão. O senhor comprava os como mercadoria para trabalhar nos serviços pesados em suas terras, eles eram discriminados pela cor da sua pele, por serem negros eram tratados das formas mais desumanas existentes”, diz Ubaldo Moura

Os negros aqui trazidos não tinham escolhas eram mandados e comandados por seu Senhor. Os escravos eram tratados como mercadorias comprados e vendidos, era considerado um mercado negro, onde não tinham nenhum valor. Os homens trabalhavam nos mais árduos trabalhos fora de casa e as mulheres faziam os afazeres domésticos comandados por sua senhora os castigos eram igualitários para ambos os sexos bastava a desobediência.

O morador Antonio Borges diz que os castigos adotados eram muitos cruéis. ‘‘Era manguá, retalhar a bunda do escravo com uma navalha e depois passava sal e pimenta. Eles também eram colocados para puxar o engenho no lugar dos bois, tinha também as chibatadas que variava de acordo com o grau de desobediência do negro”, relata.

Vida de sofrimento

A vida dos negros no período de escravidão foi marcada como um grande sofrimento, pessoas que se autodenominavam com mais autonomia do que as demais passaram a mandar e desmandar nessas pessoas que também tinha suas vontades, seus costumes, suas crenças e que tiveram que deixar muitas delas de lado por conta desses senhores, senhores esses que não olhavam o lado humano visavam apenas os seus interesses.

O senhor Antônio Borges diz que os trabalhos executados eram nas lavouras, na cana de açúcar, farinhada, trabalhavam com gado, as cercas eram construídas de pedras dava um trabalho danado para buscar essas pedras e as mulheres nos afazeres domésticos.

Para a comunidade Retiro da Conceição e para as pessoas antigas ficou na memória essa história da escravidão e como forma de não se acabar é repassada dos mais velhos para os mais novos para que os mesmos possam passar de geração em geração. Além da comunidade Retiro da conceição uma outra região próxima que teve registro da escravidão foi na comunidade Gameleira dos Rodrigues.

O senhor Ubaldo é da terceira geração da família que adquiriu as terras após a escravidão. Ele conta que guarda registros ainda deixados por eles, como o banco onde retalhavam a bunda dos escravos, engenho puxado através da força do negro, baú, mesa, registro de casa velha, oratório com a imagem de são Lazaro.
Outro registro que ficou para a comunidade inteira foi a famosa pedra da negra chamada assim porque uma das escravas se jogou após sofrer um castigo cruel e a comunidade faz missas em homenagem a ela.

Segundo o senhor Antônio, a Fazenda Retiro passou a se chamar comunidade Retiro da Conceição em homenagem a uma das moradoras com o nome de Conceição que adquiriu as terras após o Capital Chico ir embora. ‘‘A família Maroto conhecida como Moura foi quem passou a habitar naquele interior essa família veio do Ceará”, conta.

Não esquecer

A escravidão foi um período de muito sofrimento, onde, para que aqui sobrevivessem, os negros tiveram que sair forçadamente de suas terras, deixar de lado suas crenças, seus costumes, suas culturas, tiveram que aprender novas línguas, em muitos casos a família era separa cada um indo para um lado. A memória dessas pessoas que aqui viveram judiadas tem que ser sempre lembrada para que não venha a ocorrer eu um outro momento da nossa história.

“Uma mensagem deixada por um dos moradores mais novos da comunidade é que as memórias é o que temos de mais precioso, pois buscamos os registros deixados por nossos antepassados e é através delas que reconstituímos para os nossos filhos como se deu a história de onde nós moramos e para que eles possam levar mais à frente”, finaliza Rômulo Barbosa.

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