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Pescadores da região de Picos sofrem com a escassez de água

 

Pescadores na parede do açude. Foto: Grasiane Sá

O semiárido piauiense registrou uma das piores estiagem dos últimos quarenta anos, e junto, vieram os desafios para os agricultores. Açudes secaram, plantações se perderam por falta de chuva, lavradores e pescadores ficaram sem trabalho.Na localidade Cajazeiras, na cidade de Pio IX (a 442,8 km de distância de Teresina), a situação do açude é precária, a comporta secou, deixando moradores da zona rural e urbana preocupados com a falta de água, Principalmente aqueles que fazem uso da barragem.

Alguns usam a água para consumo próprio, outros para geração de renda. Geraldo Salviano da Silva é pescador e agricultor, ele recorda os momentos difíceis que tem passado com a estiagem: “A vida ficou mesmo fraca, tem que sair pra pescar fora em Bocaina, Patos e nos Piaus [açude Piaus localizado no município de São Julião]. Quando saio passo de 15 a 20 dias, vou com meu irmão de moto, andamos mais de 200 km. É distante e cansativo, o caba sofre, mas tem que sair pra procurar um jeito melhor”, conta o pescador.

Barco deteriorado pela falta de uso Foto: Maria Hilda

Segundo Geraldo, conta que a agricultura ficou parada nos últimos anos, o inverno foi fraco e não teve como plantar. A sorte foi um poço que um antigo prefeito perfurou e a população local se encarregou de comprar uma bomba para jogar água nas cisternas. Essa água servia para animais que sobreviveram, para regar horta, além disso, a Defesa Civil abastece a localidade com água a cada dois meses.

O desafio não é só para os pescadores, mas também para as famílias

A dificuldade não é só pra quem vai em busca de trabalho, para quem fica, resta o sentimento de tristeza e de saudades. Rita Francisca Rodrigues, esposa do pescador Geraldo, fala como se sente tendo que ficar em casa, enquanto o marido sai à procura de oportunidades.
“Fico triste em não poder sair. Quando tinha água a gente pescava todo dia, cuidava da minha casa e ajudava na pesca também, à tarde colocava os galões e de manhã a gente tirava com os peixes. Mas com essa situação, no que eu posso ajudar é sendo lavadeira. Lavo roupa de algumas pessoas que moram na cidade, tenho o Bolsa Família, mas é pouco. Só que um pouquinho daqui e pouquinho dalí, a gente consegue, o que não pode é ficar parado’’, lamenta.

Além, de Geraldo, outros pescadores também tiveram que viajar em buscar de sobrevivência. Sendo necessário deixar a família por meses.

Marcado fora da água Foto: Maria Hilda 

 

O jovem Lucilandio Rodrigues Ferreira, filho de Pio IX, também não enxergou muitas saídas e procurou outros meios para sobreviver. Viajou para o estado de Minas Gerais, foi morar na capital junto com outros quatro irmãos, deixando para trás a mãe e a namorada.
“É difícil ter que sair, sou apegado com a família. Tive que procurar outro emprego porque a pescar já não dava mais. Não tinha mais água pra dar peixe, e eu vivia da pescaria e um pouco da agricultura, e fui pra lá trabalhar com meus irmãos vendendo crediário. Já fui várias vezes, tá com cinco meses que cheguei. Por enquanto não consegui nenhum trabalho, estou pensando em voltar de novo”, reclama.

A falta da água atingiu também os moradores da cidade, que era abastecida pela barragem. Segundo o presidente da câmara, o vereador José Miguel de Sousa (PT), com a estiagem a cidade precisou mudar sua fonte de abastecimento, o cajazeiras secou, a cidade passou a ser abastecida através da adutora de Piaus, além de Pio IX, outros cinco municípios próximos estão na mesma situação. Diante desta situação foi necessário iniciar um racionamento de água na cidade,que permanecer até hoje. Francisco Idelfran Veloso, que mora na zona urbana de Pio IX conta como é ter que passar por um racionamento:

 

Nível morto do Açude cajazeiras Foto: Maria Hilda

“É triste termos que passar por racionamento, quando vimos o Cajazeiras secar a preocupação foi grande, foi difícil olhar a nossa situação no início. Logo veio uma solução com o açude de Piaus, mas o alerta sempre presente. Hoje olho pra nossa cidade e apesar de tudo que passamos, ainda percebo o desperdício de água, como é triste ver vizinhos que não sabem usar a água, sem abusar daquilo que não é nosso por muito tempo”.
Entre as dores da distância e as lutas diárias pela sobrevivência, o verde e a esperança prevalecem em Pio IX. O verde das matas e a esperança dos pescadores, que sonham com o dia que voltarão a tirar o sustento das águas do açude Cajazeiras.

Por Maria Hilda – Acadêmica do 2° período de Jornalismo da Faculdade R.Sá

 

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