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Um grupo, várias personalidades, um só sonho

Tainara Sousa

Os obstáculos

A dança é atividade que envolve ritmo e movimento, faz parte da vida do homem desde a pré-história. De lá para cá, a manifestação cultural se difundiu e houve um crescimento de variedade de ritmos. Além de cultura, a dança é considerada uma atividade física benéfica à saúde.

No meio de tantos pontos positivos, a dança como qualquer outra atividade cultural não é tão valorizada no Piauí. Não precisa nem ir tão longe para perceber o quão essa realidade é presente. Na cidade de Jaicós, por exemplo, há uma companhia de dança chamada Icós (nome referente à tribo que no passado viveu no local onde hoje é o município), composta por 20 crianças e jovens de 10 a 21 anos de idade, que lutam para serem reconhecidos no que fazem.

O projeto que originou a CIA de dança Icós surgiu em 2014 patrocinado pelo O Boticário. Esse projeto foi o primeiro espetáculo de dança em Jaicós e no estado Piauí com o apoio da empresa. Após esse acontecimento o grupo permaneceu, mesmo sem recursos financeiros, como um projeto social voluntário, em um local cedido pela coordenadora. “A partir disso, percebemos o interesse dos meninos e meninas pela dança o grupo continuou e ainda hoje estão aí, mesmo enfrentando dificuldades”, afirma Rosângela Silveira, coordenadora do Ponto de Cultura.

A companhia de dança não é sustentada financeiramente por nenhum órgão público, o que as vezes eles fazem é fornecer ônibus quando os integrantes do grupo tem que se apresentarem em outros lugares. “Nunca tivemos contribuição, nós sabemos que aqui na região cidades em que os prefeitos ajudam no meio cultural o IDEB é lá em cima. Existem municípios menores que Jaicós que se destacam através da cultura, como por exemplo Vila Nova e Alegrete. Mas isso se deve as primeiras administrações que valorizam a cultura. Aqui o apoio que temos é na parte da locomoção do grupo quando eles se apresentam em outras cidades. Eles nunca receberam nenhuma contribuição por se apresentarem”, diz Rosângela Silveira.

Há muitas dificuldades enfrentadas pelo grupo Icós, porém há bastante força de vontade. Os dançarinos, mesmo não sendo recompensados e sofrendo discriminações não desistem do que eles mais amam, a dança. “Precisamos de figurino e de acessórios, a maioria aqui é de classe baixa e é muito difícil ter o apoio da prefeitura da sociedade, nem todas as pessoas tem aquele olhar cultural. Ultimamente sofremos preconceito nas redes sociais, muita gente que acha que se o homem dança ele é homossexual, e ainda tem muitos pais que não apoiam os filhos na dança”, ressalta Emanuel Soares coreografo e coordenador do grupo de dança.

Com relação à estrutura do local onde ensaiam, Emanuel Soares falou que não tem o que reclamar, pois se sente agradecido por ainda terem um espaço em que possam ensaiar, mas se houvesse uma reforma iria melhorar bastante a qualidade da dança. “Eu penso assim, em muitas realidades diferentes, tem grupos que não tem nem o local para dançar e hoje em dia é muito difícil achar alguém que seda um espaço para os ensaios porque tem gente que pensa que é uma perda de tempo nossa. Temos um lugar para dançar, mas se pudesse ter um local com piso apropriado, um espelho, uma barra de balé seria muito melhor”.

As danças

Depois de um ensaio de duas horas eles ainda continuam com o mesmo folego, mais energéticos do que nunca, é como se fosse um combustível que abastece a força de viver de cada um. Dançar mudou a vida dos integrantes da CIA de dança Icós, eles vivem e transpiram dança. “A dança para mim, é minha vida. Eu não me vejo mais sem dançar, ela faz parte de mim”, relata Geisa Silva, estudante de dezesseis anos e integrante do grupo.

Os estilos de danças são variados, o grupo não faz acepção de ritmos. Segundo Emanuel Soares o grupo tenta englobar danças populares e também as estrangeiras. “Tentamos dançar todos os estilos de música. A gente começou com dança popular, o forró, o xaxado, o frevo que são mais típicas no nosso nordeste, depois adotamos outros tipos como o hip hop, o tango, a lambada e outras”.

A dança tem um papel importante na vida desses jovens e adolescentes que fazem parte da Cia de dança Icós, ela os prepara para a vida. “Aqui eu tenho amigos de verdade, que são como uma família. Eu pratico atividade física, que é muito bom! Aprendo de tudo aqui, não só sobre dança, mas também sobre a vida”, confessa Geisa Silva.

Para participarem do grupo de dança, os coordenadores da Cia exigem que os dançarinos tenham um bom desempenho escolar. “Nós temos uma cobrança na questão da escola. Para permanecerem no grupo eles tem que tirarem boas notas, terem presença na escola e uma postura exemplar”, afirma Emanuel Soares.

Além de ter uma função social na vida das crianças e dos jovens, de acordo com Rosângela Silveira a dança contribui para o desenvolvimento de um município. “Uma cidade sem cultura não é nada, a cultura tem que andar junto com a educação, isso é o que faz uma cidade ir para frente”.

Os sonhos

Um grupo, várias personalidades, um só sonho. Eles desejam crescer, serem reconhecidos, contribuir com a sociedade, se superarem e levarem sua arte a todo os lugares tudo por meio da dança.

Geison da Silva, estudante de 13 anos, não sonha pequeno e tem seus objetivos bem definidos. “Meu sonho é ter um futuro na dança, trabalhar com o que gosto, tá ligado? Eu quero fazer turnês, morar em outros países. A dança pra mim é tudo, e ela que me dá esperança”, relata Geison com um tom de voz esperançoso.

Já Rêmulo Bacelar, estudante de 13 anos, tem outro ideal. Ele deseja mostrar para as sociedade que é capaz, mostrar sua identidade através da sua dança. “Eu tenho os sonho de seguir com minha dança, porque tem muita gente preconceituosa que diz que não vou conseguir levar minha arte para outros lugares porque moro em Jaicós. Eu quero representar minha cidade em outros lugares através da dança, diz confiante.

O caçula do grupo Roniel Ferreira, estudante de dez anos, sonha em vencer competições e a ajudar o associação. “Meu sonho é ganhar vários campeonatos de dança, me esforçar mais ainda, melhorar o ponto de cultura”, relata.

Com um olhar empreendedor, Emanuel Soares sonha em se profissionalizar na área da dança e criar um espaço cultural universalizado. “Meu sonho é sair para me especializar, e dá o retorno para a minha cidade. Quero criar um academia, não só de dança, mas que possa abranger várias culturas e fortalecer tanto a capoeira como o hip hop, a dança popular, o balé contemporâneo, o teatro, o artesanato. Queria trazer cultura não só pra Jaicós, mas também para o Piauí. Uma cultura depende da outra, eu quero fortalecer todas”, afirma.

Além disso ele também deseja trabalhar com crianças especiais. “Eu acho legal pessoas quem tem essa visão, hoje trabalhamos com Rêmulo que é altista, e ele dança e se comporta como a gente. Quando falo para o pessoal que ele é altista ninguém acredita, porque não parece”, relata.

Com os pés no chão, Emanuel afirma que o sucesso não vem para todos e para não haver nenhum decepção ele sempre incentiva seus alunos há estudarem. “Uma coisa que eu falo para eles, é para procurarem outra área de trabalho, porque hoje em dia as coisa não são fáceis e infelizmente a sorte não vem para todos, por isso que cobramos a questão da escola, para eles estudarem e fazerem uma faculdade, para terem um futuro garantido caso a dança não der certo”.

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