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Formatos, cores e sabores: os bolos como símbolos afetivos

Momento descontraído em família, felicidade, aniversário surpresa e cozinha de casa em São Paulo. Ainda hoje, aos 16 anos, são esses cinco elementos que viajam no imaginário de Heloísa Leal ao comer um pedaço de bolo de baunilha, com cobertura de chocolate e granulados coloridos na decoração, prato principal da sua festa em comemoração pelos três anos de vida.

“Na minha infância, minha família fazia bolos para festejarmos meu aniversário pelo menos de dois em dois anos. Quando como esse bolo, é como se eu entrasse em uma máquina do tempo e de teletransporte, ficando com três anos e em São Paulo de novo. Tenho memórias com vários, mas esse é mais especial e marcante de alguma forma”, contou a adolescente.

Heloísa em um de seus aniversários (Foto: Arquivo Pessoal)

Mãe de Heloísa, Marcênia Leal é dona e proprietária do Leal Confeitaria, empresa especializada em produção de bolos – para festas e de potes, para porções menores. A confeiteira conta que, na infância de suas filhas, costumava fazer o alimento para comemorar os aniversários em casa, fato que ajudou na sua familiaridade com as receitas.

“Na medida do possível, tentava fazer com que elas tivessem um momento para guardar no coração. Depois de passar por muitas profissões e áreas, me encontrei na confeitaria porque amo cozinhar e a ideia de contribuir de alguma forma com uma comemoração importante. É gratificante para mim”, afirmou a confeiteira.

Possuindo atualmente dois cursos na área de confeitaria, a empresária afirma que, apesar de ter um cardápio fixo, é comum os clientes apresentarem pedidos específicos, o que pode representar um gosto pessoal. Considerando a facilidade do acesso e da produção, consegue atender o requerimento para proporcionar boas lembranças como as construídas na sua própria família. 

Bolo da Leal Confeitaria (Foto: Reprodução/Instagram)


“Eu trabalho fixamente com cerca de quatro ou cinco sabores, pois são os que mais saem da confeitaria, mas já chegou um pedido com maracujá, por exemplo. Pela clareza, pensei que fosse algo especial para a cliente e, procurando modos de preparo da fruta, me arrisquei na produção para entregar. Fiquei com medo, mas deu certo e ela contribuiu com mais um sabor para a nossa lista”, disse, em tom descontraído.

AFETIVIDADE E MEMÓRIA

A relação entre afetividade e memória, apresentada no relato da adolescente, pode ser explicada a partir de estudos. De acordo com a psicóloga Marilene Luz, existem amostras que revelam a construção do imaginário desde a gestação, período em que o bebê está em processo de desenvolvimento.  

“Nós desenvolvemos memórias desde o nascimento e até mesmo antes dele. Hoje, temos estudos que falam de memórias construídas a partir da gestação e como ela é conduzida, com os pais conversando com a barriga e colocando música para o bebê escutar, por exemplo. Ao longo da vida e do desenvolvimento, a pessoa terá aquela memória”, afirmou Marilene.

Ainda segundo a profissional, a memória afetiva está ligada a sons, cheiros, sabores e toques viajam no tempo e acompanham o crescimento do ser humano, essa podendo trazer lembranças positivas e negativas. No entanto, ao falar da conexão com os alimentos, é necessário falar do desenvolvimento, fato que irá afetar diretamente em como determinada memória irá se manifestar. “A criança se desenvolve de acordo com o contexto: com quais pessoas estão? Como é o processo afetivo ofertado para a criança? Tudo vai influenciar na memória. Como a criança vai desenvolver memória afetiva de algo bom, com determinada comida ou sabor, vai depender de como é apresentado e falado para ela. Posteriormente, na vida adulta, ao comermos algo e lembrarmos da comida da vó ou do bolo da mãe, trazendo uma coisa muito boa, foi porque, lá atrás, teve um impacto muito grande, um momento muito feliz e afetuoso”, explica

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