Teologia da Libertação: qual o verdadeiro papel das igrejas?

Ao visitar uma comunidade da zona rural de Oeiras, meu pensamento logo me remeteu a Marx e ao Evangelho de Cristo. Não foram os moradores que me falaram sobre Marx, mas a realidade que eles vivem que me direcionou aos seus pensamentos. Perguntei-me neste dia, qual o verdadeiro papel das igrejas? O cuidado com aqueles que estão à margem da sociedade é a única fundamentação para explicar a existência delas. Ou deveria ser.

Baseada na ideia de que Jesus Cristo não veio ao mundo para fundar uma igreja ou uma religião, ele veio propor um novo projeto de sociedade, que não é uma sociedade Cristã, é uma sociedade humana, nasce a Teologia da Libertação, uma corrente teológica cristã.

A TL surge na igreja latino-americana e caribenha, após o Concilio Vaticano II e a Conferência de Medellín. Parte da ideia de que o Evangelho exige uma opção preferencial pelos pobres. A grande maioria dos teólogos da libertação são adeptos do ecumenismo e da inculturação da Fé Cristã. No Brasil os nomes mais conhecidos de teólogos da libertação são: Leonardo Boff, Frei Betto, Pedro Casaldáliga, Marcelo Barros e os já falecidos, Dom Helder Câmara e Paulo Evaristo Arns.

Muitas vezes nos perguntamos acerca do verdadeiro papel das igrejas. Uma igreja pobre e para os pobres. É a principal ideia defendida pela Teologia da Libertação. Uma igreja que se preocupe acima de tudo com o social, não se preocupe somente com a fome espiritual, mas também com a fome de pão, com as necessidades do povo. O papel da igreja é se colocar ao lado dos pobres, e não acima ou à frente deles. A Igreja tem um compromisso com a libertação dos pobres, excluídos e marginalizados. O próprio evangelho nos remete a esse cuidado com aqueles que estão à margem da sociedade.

Há críticas à Teologia da Libertação de que os teólogos e seguidores desta vertente estão, simplesmente, fazendo política. Essa mesma ala conservadora da igreja, que critica a TL, não acusava a igreja de fazer política quando ela estava sempre junto aos poderosos.

Pedro Casaldáliga, em um livro sobre espiritualidade e mística, fala que “o pobre é o único e maior sacramento”, e isso resume muito sobre este verdadeiro papel da igreja de Cristo, que é, não somente reconhecendo a luta do povo, mas sofrendo com o povo e buscando formas de amenizar este sofrimento. Só assim estaá colocando em prática o verdadeiro projeto de igreja que o Cristo propõe. Uma igreja pobre, que lute por justiça e que encare os problemas dos pobres como seus próprios problemas resumem o papel da Igreja que o Cristo nos direciona. Esse é o papel.

Jeremias Santos