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DE PORTUGAL PARA PICOS: O BAIRRO IPUEIRAS E SUAS TRADIÇÕES SECULARES

O bairro Ipueiras se destaca por suas peculiaridades, e tradições que ultrapassam gerações.
Dentre essas tradições, existe a subida ao morro da Santa Cruz, que também é conhecido como morro do Quebra-Pescoço, e leva centenas de curiosos e fieis a subirem no dia 03 de maio.

A festa dos reis. No bairro Ipueiras existia outra tradição secular que era o reisado. Inicialmente, vindo de Portugal para o Brasil, uma dança tradicional, que consiste na adaptação de romances e cantigas populares, e que faz menção ao dia de Reis.

Impossível falar do bairro Ipueiras sem mencionar seus fundadores. O bairro foi fundado por uma família vinda de Portugal, inicialmente para a Bahia depois pra Picos, a família Luz. Sua genealogia já ultrapassou várias gerações.
O bairro Ipueiras fica localizado na cidade de Picos, entre os bairros Bomba, Morro da Macambira, Baixío de Ipueiras e Umari, dividido entre zona urbana e rural, sendo que a predominância é urbana.

De acordo com o censo do IBGE 2010 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o bairro possui 3588 habitantes, sendo que 1743 são homens, somando 48,58% já a população feminina é maior com 1845 que equivale a 51,42% de mulheres que compõe o bairro.

A FAMÍLIA QUE ULTRAPASSA GERAÇÕES

A família Luz ocupa uma grande parte do bairro Ipueiras, os primeiros representantes da família Luz que migraram de Portugal vinham em busca de melhores condições de vida.

Trabalhavam com agropecuária, criação de gado, vazantes, cultivo de algodão, feijão, milho e mandioca, pelas localidades de Bocaina do Piauí e povoados da cidade de Picos.

Francisco Teotônio da Luz Neto, um dos membros da família, lançou um livro no ano de 2003, contando de maneira geral a história da família. O livro é dividido em nove gerações.

Nele é citado o nome dos pais, filhos, netos e bisnetos conforme a geração conceituada. Também é destaque a árvore genealógica da família, com fotos dos primeiros representantes da geração e movimentos culturais da época.
Olga Francisca da Luz, de 66 anos, destaca a família Luz como pessoas acolhedoras e que respeitam todos os colegas e vizinhos das demais famílias.


(Foto: Isael Pereira – Olga Francisca da Luz)

– Eles queriam uma família fechada, que não entrassem outros sobrenomes nela, pela questão de cultura e padrão de vida daquela época. Eram escolhidos os esposos das suas filhas e o oferecimento de “dote”, o pai da moça oferecia a família do noivo bens financeiros ou materiais para que houvesse o casamento, disse Olga.

PRIMEIRA, SEGUNDA E TERCEIRA GERAÇÃO: FIRMAMENTO NO BAIRRO IPUEIRAS

A Primeira Geração da família Luz foi com o senhor que veio de Portugal para Bahia em meadas do século XVIII, Inácio da Luz.

A Segunda Geração compreende a indicação dos Filhos dos Pais que estão apresentados na primeira geração, são eles: Manoel Inácio da Luz e Francisco Inácio da Luz, ambos nascidos na Bahia, vieram ainda rapazes para o Piauí.

A terceira geração compreende a indicação dos Filhos dos Pais que estão apresentados na segunda geração, são eles: Antônio João da Luz, Raimundo Francisco da Luz, João Francisco da Luz, José Martinho da Luz, Jovino Francisco da Luz, Ana Maria de Sousa e Josefa Maria da Luz, todos nascidos no Bairro Ipueiras.

NO PÉ DAQUELA CRUZ

No dia três de maio, já nas primeiras horas do dia, o amanhecer é acompanhado de fogos e uma missa festiva. O lugar é inusitado: um morro, onde a vista precisa ser erguida para se enxergar o topo, acontece durante todo o dia, o sobe e desce é ininterrupto. Uma tradição que fortalece a cultura de um bairro. Esse é o Morro da Santa Cruz, no bairro Ipueiras.

O local é ponto para pagamento de promessas por diversos milagres alcançados, onde pessoas demonstram sua fé e devoção à santa cruz.


(Foto: Isael Pereira – Morro da Santa Cruz)

Mas o morro, nem sempre teve essa denominação. Durante muitos e muitos anos foi chamado e ainda é denominado por alguns de Morro do Quebra-Pescoço.
De acordo com a moradora do bairro, Ana Irenilda de Araújo, a lenda diz que uma certa vez, um grande proprietário da época, na véspera domingo de páscoa, pediu que um de seus vaqueiros fosse até o campo em busca de um boi, para que matasse e fizesse uma grande festa no domingo de páscoa.

– O boi estava muito bravo, e fugiu mata a dentro, e o vaqueiro o perseguia, montado em seu cavalo e acompanhado de seu cachorro, o boi subiu em direção a esse monte e o vaqueiro foi atrás, e chegando no despenhadeiro o boi caiu no abismo, e o vaqueiro não conseguiu parar e caiu com o cavalo e seu cachorro, relatou Ana Irenilda.

A professora ainda nos dá conta que, segundo a lenda, nenhum sobreviveu a queda do grande penhasco.
– Todos morreram, quebraram o pescoço, por isso, durante muitos anos o morro foi chamado de Morro do Quebra-Pescoço, por causa da lenda, completou a professora.
Depois, o grande morro recebeu o nome de Morro da Santa Cruz. Ana Irenilda diz que segundo os mais velhos e seu pai também lhe contava, que os antepassados dele, já diziam que a cruz no topo do morro, foi fincada por missionários.
– Lá existe essa cruz secular, que foi colocada por esses missionários que passaram por essa região e como marco dessa passagem colocaram a cruz, completou Ana Irenilda.


(Foto: Isael Pereira – Santa Cruz)

Antigamente, era de difícil acesso a subida ao morro, mas os grupos religiosos das comunidades que rodeiam o morro, mobilizados por Zé Neguinho, recebiam doações, faziam leilões, daí fizeram a construção da escadaria que dava acesso ao topo do morro, facilitando a subida dos devotos e visitantes. A escada conta com mais de cem degraus.


(Foto: Isael Pereira – Vista panorâmica de cima do morro)

A professora conta que no dia 3 de maio de 2011 foi realizado a primeira missa no topo do morro, pelo atual prefeito da cidade de Picos, que era pároco da paróquia São José Operário, o Pe Walmir de Lima.
No dia 14 de setembro do mesmo ano foi realizada a segunda missa, que era o dia da exaltação da santa cruz, a professora afirma que desde esse ano duas missas são realizadas durante o ano.

A DANÇA DOS REIS

Há o costume popular de celebrar, no dia 6 de janeiro, o chamado Dia de Reis, que faz menção aos três reis magos que apareceram no nascimento do menino Jesus.
No século XX o bairro Ipueiras foi destaque em umas das mais variadas manifestações folclóricas de maior expressão popular da região, o Reisado.

Vindo de Portugal e chegando a Picos, no Bairro Ipueiras, por intermédio do Coronel Felipe de Araújo Rocha, um dos fundadores desse Bairro.
O Reisado no Bairro Ipueiras era bastante conhecido como “Reisado de Damas”, denominado por vestimentas mais sofisticadas, representando a mais autêntica manifestação do Folclore Nordestino.

Cuja natureza, composição e modo de representação são únicos em toda a região, em que se observam danças e cânticos por homens com uma máscara no rosto e bastão na mão, chamados “caretas”, geralmente em número de três ou quadro, em torno de animais, de crendices populares, movimentadas por dançadores etc.

Josino Petronilo Barbosa, de 86 anos, começou com o reisado no município de Itainópolis do Piauí, no ano de 1945 e assim seguiu a profissão pelas as cidades vizinhas até chegar ao bairro Ipueiras, inicialmente tocando violino e logo à frente mudando de instrumento, passando a tocar o acordeom.

– Os reisados eram realizados a partir de convites dos moradores do bairro, os mesmos disponibilizavam suas casas, como terreiros ou muros, a brincadeira era motivo de festa e comemoração, pois seguia uma tradição que já era passada de geração em geração, disse Josino.


(Foto: Isael Pereira – Josino Petronilo)

Infelizmente a cada ano que passa a tradição do reisado de Ipueiras vem sendo esquecida, a maioria de seus integrantes iniciais, já estão falecidos.
Esse fato contribuiu para que essa cultura popular tão rica esteja sendo esquecida. Porém as novas gerações devem procurar conhecer e resgatar, este rico patrimônio cultural do bairro ipueiras.

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