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Conheça a arte de fazer utensílios de argila da Comunidade Quilombo dos Potes

A arte feita de argila, de forma artesanal da comunidade Quilombo dos Potes, município de São João da Varjota-PI poderá deixar de existir em um futuro próximo, devido a falta de interesse dos jovens do quilombo.

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Artesãs Maria Raimunda e Maria Irene durante processo de fabricação das peças feita com a argila (Foto: José Carlos da Silva)

 

O município de São João da Varjota-PI, conhecido pela sua negritude, com mais de 80% da sua população sendo de cor negra, se destaca também em outros aspectos que orgulha muito a sua gente, como na questão cultural e no artesanato de formato artesanal.

De característica própria, com tonalidade de voz e cor da pele inconfundível, os habitantes do Quilombo dos Potes se destacam pela sua alegria e receptividade aos visitantes turistas e estudantes que sempre chegam para matar a curiosidade em conhecer o povo descendente de quilombos ou para fazer pesquisas.

O amanhecer no quilombo é bem característico, os mais velhos são os primeiros a dar o ar da graça. Levantando sempre bem dispostos e humorados, sempre dão um jeito para arrancar a risada de todos, o que é outra característica do povo quilombola dos Potes, suas risadas.

A matriarca da comunidade, vó Antonina (in memoriam) chegou à região de São João da Varjota, na década de 1920, ela era ainda uma criança de apenas sete anos de idade. Seus pais, senhor Licínio Simplício e dona Maria Moraes vieram das ribeiras de Picos-PI. Seu Licínio Simplício era cearense e veio para o município de Picos ainda muito jovem fugindo dos efeitos das grandes secas que aconteceram em épocas passadas, em busca de trabalho.

Um grande latifundiário da região de São João da Varjota, senhor Lourenço Barbosa, era um homem muito conhecido também na região de Picos, e, por conseguinte conhecia o seu Licínio Simplício e a família trazendo-os para cá no decorrer dos anos vinte. Seu Licínio sabia trabalhar com a argila, mas na confecção de alvenaria ou adobe, que na época eram poucas pessoas que podiam fazer as suas casas com esse tipo de material.

Naqueles tempos as famílias eram bem humildes e toda ajuda que viesse para complementar a renda familiar era bem vinda, por isso mesmo dona Antonina começou trabalhar bem cedo, desde criança. Na comunidade que deram o nome de “Barreiro”, que é o lugar de onde se tira a argila para a confecção das peças, a dona Antonina ali aprendeu a fazer potes, um dom que era só seu, mas que no futuro repassaria para os seus descendentes. Foi no Barreiro, onde a família se fixou ao chegar aqui e ao passar dos anos dona Antonina se casa com o senhor Cândido Pereira e ali mesmo na comunidade Barreiro começou a construir família, onde nasceram quase todos os seus filhos.

No processo de construção dessa reportagem, cujas entrevistas já haviam sido previamente marcadas na comunidade quilombo dos Potes, na chegada para colher as informações, algo parece mexer com a normalidade diária dos moradores do quilombo, logo sou recebido pela presidenta da Associação do quilombo, senhora Maria Irene e também pela senhora Maria Raimunda, que são irmãs. Aproveito para visitar a padaria São Francisco, uma novidade dentro da comunidade, sendo este empreendimento um dos desenvolvimentos local, de propriedade de Francisco de Sousa, um dos muitos netos de dona Antonina. Sou encaminhado para o “Galpão”, pelas senhoras Maria Irene e Maria Raimunda. O “Galpão” é o lugar de trabalho da comunidade na construção das mais diversas peças de argila. Percebo que outras pessoas observam de longe, mas não se aproximam, apesar da boa relação que tenho com todos os moradores dali. Talvez alguns estejam intimidados em conceder entrevista, o que é perfeitamente normal.

A primeira a falar foi dona Maria Raimunda, ela disse que a arte de trabalhar com argila nessa região “É de muito tempo”, e relembrou citando por várias vezes demonstrando muita emoção, a sua mãe dona Antonina e o seu pai o senhor Cândido. Disse que toda essa região pertencia a Oeiras-PI, que o lugar quilombo dos Potes de hoje, antes se chamava Lagoa Seca. Ela se diz muito preocupada, com medo de que essa arte possa desaparecer, pois de acordo com ela a nova geração não quer aprender a arte de trabalhar com a argila e os que aprenderam, não querem praticar. “Os mais jovens não querem se sujar com o barro e nem pegar no pesado e com isso a tradição corre o risco de ser interrompida. Eles parecem que têm vergonha de assumir que sabem trabalhar com o barro. Já eu tenho é muito orgulho do que faço isso é minha vida e são eles que não sabem o que estão perdendo porque é uma arte de muito valor não só financeiro, mas também sentimental”, disse dona Maria Raimunda em tom de desabafo.

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Na foto, dona Maria Raimunda e Maria Irene no galpão da comunidade produzindo panelas de barro (Foto: José Carlos da Silva)

“A história da nossa mãe Antonina, não pode parar, eu tenho o maior prazer em ensinar a arte para todos, assim como aprendi da minha mãe, e assim ver continuar a tradição em fazer potes e tantas outras peças de barro. Pois os mais velhos vão desaparecendo ou vão se cansando do labor. E a missão de continuar com o trabalho são dos mais jovens”. Ensinou dona Maria Raimunda.

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2 Comentários

  1. José Carlos da Silva, parabéns pela reportagem. Visitei esta comunidade em 2012 e 2013 realizando pesquisa para minha Dissertação de mestrado.

    Você tem fone de contato da Irene. O que tenho não atende.

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