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Conheça a riqueza das sementes no Semiárido piauiense


No semiárido brasileiro, os produtores rurais encontram diversas formas de subsistência e comercialização dos produtos, para tanto, tem-se o surgimento de grupos, que lutam a favor, de técnicas adequadas para a convivência em suas terras nativas, os chamados movimentos sociais.
No interior de Picos, existe a comunidade Fornos, localizada na Chapada do Mocambo, zona rural, a 35 quilômetros da cidade de Picos. A região é povoada por poucos habitantes que demonstram grande força de vontade em mudar o quadro econômico, sustentável e sociocultural da comunidade, através de uma associação que visa a articulação da sociedade em rede para a convivência com o semiárido. Diante deste contexto foi criada a Casa das Sementes.

membros da casa de sementes

Um programa elaborado a favor de pessoas por meio de movimentos sociais, mobiliza aspectos esquecidos e não valorizados de uma região. A casa das sementes, é um exemplo de valorização dos elementos nativos existentes em sua localidade, pois trabalha com as chamadas sementes crioulas, produtos sem uso agrotóxico ou qualquer objeto químico que interfira na qualidade dos alimentos. A produção é feita para comercialização e subsistência, como o milho, tomate, alface e feijão.

A Casa das Sementes
O projeto surgiu com intuito inovador e que acabou modificando a vida dos associados, foi então que em 2015 vinte famílias foram cadastradas e capacitadas, as famílias envolvidas participavam da iniciativa “Um milhão de Cisternas”. Em busca de pessoas participantes deste programa, a organização Caritas, ao perceber a preservação de sementes naturais, sugeriu àquele grupo que fosse implantada a Casa das Sementes, projeto do Governo Federal, construída no início de 2016.

casa de sementes

Para participar do programa é necessário que o candidato seja agricultor familiar e trabalhar com sementes crioulas. A partir disso, o grupo tem por finalidade fazer o estoque de sementes puras e selecionadas, orgânicas, sem agrotóxico, como destaca a coordenadora da Casa das Sementes, Maria Francisca.

“A gente faz a plantação de forma individual, cada um em sua propriedade, mas já estamos pensando em fazer um trabalho coletivo, plantamos e depois juntamos a de todos para ver a quantidade de sementes. Também vêm os agricultores que não são cadastrados no Governo, mas a casa empresta a semente e troca, para isso, eles preenchem a ficha de controle, então passam a fazer parte do cadastro da casa” ressalta.
Apesar de serem plantadas individualmente, o resultado do trabalho é coletivo e significativo aos produtores que mantêm vivo o que aprenderam há gerações, logo a posição de trabalho no projeto é igual para todos, Maria Francisca destaca que costuma dizer que, na Casa das Sementes todo mundo é coordenador e no momento da divisão dos trabalhos todos fazem de tudo. A coordenadora ainda diz “até agora os que são atuantes, nenhum deu para trás”, conta com orgulho.

 

Algumas da sementes do projeto
coleção de sementes

 

 

 

 

 

 

 

Atualmente, mais de 30 famílias participam do projeto, entre elas, se encontra a agricultora Maria Rozelândia Sousa, que menciona a importância da Casa das Sementes e as oportunidades “participo do projeto desde o começo e para mim é muito importante, pois na região não tínhamos os benefícios que temos hoje, todos os benefícios que estão vindo para a nossa localidade foram através da Casa das Sementes. Depois do projeto melhorou muita coisa, quando a gente plantava não tínhamos as sementes selecionadas, chamadas sementes crioulas, são as sementes que gente guarda na casa e não tem mistura, plantamos e sabemos que a semente é limpa”, conta.

Sementes de milho vermelho

Dificuldades
Apesar dos incentivos, a associação ainda sofre com a falta de espaço para o armazenamento das sementes, além da falta de um sistema de refrigeração, pois é necessário mantê-las em um bom estado de conservação, uma vez que a durabilidade de germinação das sementes fica comprometida por conta da exposição ao calor.

 

Projetos futuros
Em meio aos obstáculos, a comunidade dos Fornos tem a seu lado outro programa que está sendo executado e isso continua motivando-os a continuar, conforme esclarece a coordenadora da Casa das Sementes, Maria Francisca “um dos motivos para continuar com o programa é a movimentação de vir outros projetos, qualquer um da região Nordeste queria receber, e só nós da comunidade dos Fornos recebemos que é um projeto da Fiocruz. Descobriram que no semiárido tem um grupo de agricultores que participam dessa casa, que são muito atuantes. Trouxeram o projeto que está sendo executado, primeiro vamos fazer um curso, uma pesquisa, depois uns recursos que vamos trabalhar e produzir e talvez fazer um melhoramento na casa” informa.

plantação com as sementes
local do plantio das sementes

 

 

 

 

 

 

Ainda de acordo com a coordenadora, a Caritas está sempre atenta quando o Governo Federal envia recursos para a associação e lembra que no ano de 2016 houve meios para a venda dos produtos por um preço superior ao do mercado, o que rendeu bons lucros para as famílias associadas. Em 2017, não tiveram recursos para compra das sementes. Este ano ela foi informada pelo coordenador da Caritas, que haverá um levantamento de todo estoque das sementes que os associados guardam em casa para serem doadas aos agricultores que não possuem. Sendo que, segundo Maria Francisca, esta atividade é importante para a multiplicação das sementes.

cisternas de produção

Ainda que, esquecido, o semiárido é lembrado por pessoas movidas em uma rede de luta e persistência. Há quem desconhece e é ensinado que o sertão se resume em terras secas, por outro lado, há quem conhece as verdadeiras potencialidades da região que aprendeu a conviver. A partir deste contexto, a Casa das Sementes pode ser caracterizada como um trabalho coletivo, organizado, cheio de sonhos e, principalmente, consciente das riquezas que a região possui, agregando valores e recursos para as diversidades do país.

Reportagem feita pelos alunos de Jornalismo da Faculdade R. Sá:

Dalila Pereira , Gustavo Dantas, Kelly Lorenna, Giselly  Pacheco

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